Cerca de mil mulheres retomam Acampamento das Mulheres do Campo e Cidade
22 de março de 2024

Cerca de mil mulheres se reuniram no Parque de Exposições de Salvador entre os dias 6 e 8 de março para realização da 13ª edição do Acampamento das Mulheres do Campo e Cidade. A ação faz parte do calendário do Março de Lutas e teve como mote “Lutaremos por nossos corpos e nossos territórios: nenhuma a menos”. A iniciativa contou com apoio da CESE através do Programa de Pequenos Projetos.
Vindo de um hiato de 10 anos motivado pela conjuntura política turbulenta que o Brasil atravessou na última década, o acampamento é um espaço de mobilização, formação e articulação entre mulheres do campo e da cidade, de unificação das lutas. Participaram mulheres de assentamentos, comunidades rurais, das periferias de Salvador, jovens, quilombolas e outras lideranças do campo político.



Ao todo, foram mais de 20 organizações, movimentos e outras representações dentre as quais o Movimento Negro Unificado (MNU), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Levante Popular da Juventude, Associação de Trabalhadoras Domésticas, Fórum Baiano LGBT, Coletivo Iyá Akobiodé, Instituto de Juristas Negras, dentre outros.
Jazian Mota, da Coordenação Política Pedagógica do Acampamento, explica que a onda de violência no campo e na disputa por territórios no período recente, marcada por episódios extremos como os assassinatos de Mãe Bernadette, em agosto do ano passado, e de Nega Pataxó, em janeiro de 2024, fez com que as diversas formas de violência contra a mulher se tornassem as principais pautas da atividade.
“Essa violência vai desde a saúde mental das mulheres à violência política de gênero, com a negação dos espaços de poder. Os altos índices de feminicídio vão se alastrando tanto nas periferias da cidade como no campo. A violência que vem do Estado, o avanço do agronegócio, o genocídio da juventude preta. Nossos filhos e filhas estão sendo vítimas dessa guerra”, contextualiza a ativista.
Mas ela ressalta que, acima de tudo, o Acampamento é um espaço de resposta. “Aqui também buscamos formas de nos fortalecer, de pensar como podemos nos unificar para romper com esses ciclos de violências. Esse é o maior saldo positivo da retomada do Acampamento: podermos voltar a reconstruir e fortalecer essa articulação de mulheres de diversos movimentos”, pontua.
Na tarde do dia 8 de março, essas mulheres se somaram à marcha do 8M, no Campo Grande. Elas ainda pretendem se reunir para finalizar a construção de uma carta aberta a partir de tudo que foi debatido durante o Acampamento, dentre denúncias, reflexões e apontamentos.
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Conheço a CESE desde 1990, através da Federação de Órgãos para Assistência Social (FASE) no apoio a grupos de juventude e de mulheres. Nesse sentido, foi uma organização absolutamente importante. E hoje, na função de diretor do Programa País da Heks no Brasil, poder apoiar os projetos da CESE é uma satisfação muito grande e um investimento que tenho certeza que é um dos melhores.
A CESE não está com a gente só subsidiando, mas estimulando e fortalecendo. São cinquenta anos possibilitando que as ditas minorias gritem; intervindo realmente para que a gente transforme esse país em um lugar mais igualitário e fraterno, em que a gente possa viver como nos quilombos: comunidades circulares, que cabe todo mundo, respirando liberdade e esperança. Parabéns, CESE. Axé e luz para nós!
Somos herdeiras do legado histórico de uma organização que há 50 anos dá testemunho de uma fé comprometida com o ecumenismo e a diaconia profética. Levar adiante esta missão é compromisso que assumimos com muita responsabilidade e consciência, pois vivemos em um país onde o mutirão pela justiça, pela paz e integridade da criação ainda é uma tarefa a se realizar.
Eu preciso de recursos para fazer a luta. Somos descendentes de grupos muito criativos, africanos e indígenas. Somos na maioria compostos por mulheres. E a formação em Mobilização de Recursos promovida pela CESE acaba nos dando autonomia, se assim compartilharmos dentro do nosso território.
Eu acho extraordinário o trabalho da CESE, porque ela inaugurou outro tipo de ecumenismo. Não é algo que as igrejas discutem entre si, falam sobre suas doutrinas e chegam a uma convergência. A CESE faz um ecumenismo de serviço que é ecumenismo de missão, para servir aos pobres, servir seus direitos.
Minha história com a CESE poderia ser traduzida em uma palavra: COMUNHÃO! A CESE é uma Família. Repito: uma Família! Nos dois mandatos que estive como presidente da CESE pude experimentar a vivência fraterna e gostosa de uma equipe tão diversificada em saberes, experiências de fé, histórias de vida, e tão unida pela harmonia criada pelo Espírito de Deus e pelo único desejo de SERVIR aos mais pobres e vulneráveis na conquista e defesa dos seus direitos fundamentais. Louvado seja Deus pelos 50 anos de COMUNHÃO e SERVIÇO da CESE! Gratidão por tudo e para sempre!
Ao longo desses 50 anos, fomos presenteadas pela presença da CESE em nossas comunidades. Nós somos testemunhas do quanto ela tem de companheirismo e solidariedade investidos em nossos territórios. E isso tem sido fundamental para que continuemos em luta e em defesa do nosso povo.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
Comecei a aproximação com a organização pelo interesse em aprender com fundo de pequenos projetos. Sempre tivemos na CESE uma referência importante de uma instituição que estava à frente, na vanguarda, fazendo esse tipo de apoio com os grupos, desde antes de outras iniciativas existirem. E depois tive oportunidade de participar de outras ações para discutir o cenário político e também sobre as prioridades no campo socioambiental. Sempre foi uma troca muito forte.
Há vários anos a CESE vem apoiando iniciativas nas comunidades quilombolas do Pará. A organização trouxe o empoderamento por meio da capacitação e formação para juventude quilombola; tem fortalecido também o empreendedorismo e agricultura familiar. Com o apoio da CESE e os cursos oferecidos na área de incidência política conseguimos realizar atividades que visibilizem o protagonismo das mulheres quilombolas. Tudo isso é muito importante para a garantia e a nossa permanência no território.